terça-feira, maio 5

Não chega

Não me parece justo. Recuso-me a acreditar que a vida
seja tão efémera, que tudo o que revela ser importante
tenha a duração de uma tablete de chocolate nas minhas mãos,
de um cubo de chocolate no céu da boca.
As pessoas recusam-se a viver em paz porque o drama é
muito mais excitante. Precisam constantemente de estragar tudo
para construir e resolver uma vez mais.
São aquilo a que chamo "lego enthusiasts". Porque tudo parece
uma brincadeira de montar peçinhas ao gosto do freguês.
Pegam nos sentimentos quadrados e controem altas torres,
que quanto mais altas são, mais tomadas por garantido se tornam...
maior é a queda, mais custa remediar a situação.
Então vamos pegar nas atitudes egoístas e construír uma
pequena ponte de rectângulos porque dá menos trabalho. Aqui as fundações
nunca são boas.
A ponte acaba sempre por cair, nem sempre chega a ser construída.
E fico sempre sem saber o que dizer porque me perdi numa
multidão de desilusões, de questões de abandono para com tempos passados
que me afogam num rio de nostalgia.
E por hoje paro.Só para pensar. Só para me repescar no rio em
que me afogo diariamente.
Porque tenho esperança. Tenho a sensação dos teus lábios rubros
na minha pele, momentos que nem os piratas da somália conseguirão roubar.
Porque não sou um brinquedo e não serei julgada por falsidades
e egos prestes a explodir.
Agora que já te tenho, serei tudo.
E mais alguma coisa.
Porque só isto não chega.Sem brincadeiras, sem rodeios.
Uma vez mais vestirei o casaco de pele de cordeiro, deixar-me
à mercê do que quer que seja.
Eu acredito.