sexta-feira, junho 28

Hipotermia

Já em estado de choque, a entrar em hipotermia, as larvas comem-me o cérebro que aos poucos se alisa, perde as circunvuloções que fazem dele único e dotado de lógica. Será a lógica subjectiva? Sempre que abro os olhos tentam pôr-me palas, "Não vejas aquilo que realmente interessa, distrai-te mais um bocadinho enquanto te espeto uma faca nas costas só porque sim". E assim perpetuam-se fechados, enclausurados num mar de conveniência. Como é que pessoas tão carentes e sentidas se podem destacar uma da outra como um proglote ovígero se destaca de uma ténia? Rapidamente empunham um escudo do tamanho dos seus egos e prontamente disparam balas a torto e a direito a quem nem uma faca tem. Porque o mais importante é o seu orgulho ferido, os despojos da guerra, o dote, as armas e esquecem-se do verdadeiro propósito do fosso. Uma fossa, uma cova, uma campa, uma lápide onde qualquer resquício de reconhecimento morreu enterrado vivo. E o sufoco é tanto. É imenso. É falta, é ausência, é ignorância, ganância, paranóia. E este cenário bélico passa a ser a nossa casa.

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