quarta-feira, novembro 28

Oblivion

Desculpa lá se me esqueci de ti.
Foi sem intenção.
Foi num mar de gás de tubos de escape que te afoguei vezes sem conta. E nesse espaço em que fiz o mesmo percurso todos os dias, para trás, para a frente, para a esquerda e direita e esquerda outra vez, consegui evitar que morresses no vómito e puxei-te do buraco negro que insiste em me envolver. Chupa toda a minha paixão, a minha luz, a minha aura, o meu brilho. Não sou nada mais que uma massa cinzenta que se funde com as demais para existir...sim existir. Existe para fazer com que a máquina que nos destrói continue a funcionar indeterminadamente e eu não entendo. Porquê continuar a andar para trás?...
Um dia já com o pescoço vermelho e queimado de tanto me apertarem as rédeas, decidi afrouxá-las um pouco e tirar as palas dos olhos.Dei autorização a mim mesma de visitar o meu mundo. Ganhei magenta, amarelo vivo e azul ciano. Tudo o que preciso para as ruas sem estradas, o céu sem antenas, as cidades sem prédios, a relva sem plástico, esta casa vazia.
(Queria que nunca viessem)
Mas estas nuvens de algodão doce são perecíveis, certas situações nunca tomarem lugar em qualquer ocasião,não conseguímos dançar o malhão sincronizados, as nossas sessões de imrpoviso não foram registadas, as formigas voadoras foram pisadas eventualmente, o vinho velho já não sabe bem e tudo o que sonhei acabou acordado.
Insistem em me fechar entre seis paredes e andar às voltas. Cometo erros e as lições são constantes. O cordão umbilical de tudo ali permanece e não tenho mãos para arrancá-los. Mas no meio do escuro...tu...apareces.Lembro-me de ti agora. Os outros nunca interessavam.Não de uma forma egoísta e arrogante. Os outros apenas não existiam. Vivias tudo o que tinhas para viver. E tinhas um sorriso madre pérola verdadeiro e sentido.
Cumprias os teus objectivos mínimos de juntar o máximo de azedas possíveis para o jarro da cozinha, só porque eram amarelas e era um gesto bonito.
Enrolavas-te na cortina infinitas vezes, pa ver em quanto tempo começavas a ter torturas e se te conseguias soltar, só porque sim.
Cantavas para um monte de espantalhos que eram a tua plateia preferida. Nunca te criticavam e estavam felizes permanentemente como se te estivessem a agradecer por tudo.
Lias livros até ao fim porque assim viajavas sem sair de casa. E gostavas de relê-los muitas vezes mais.
Metias caramelo nas pipocas porque pensavas que era assim que se faziam pipocas caramelizadas.
Para ti tudo era tão simples.
Mas o que costumava afirmar que um mais um é dois, passou a dizer que a fórmula dois pi raio ao quadrado estava relacionada com uma faculdade das circunferências.
E daí passou a existir a massa cinzenta.
Será que a massa cinzenta é a tua protecção?
Será que tu te transformaste nessa massa disforme?
...
Não sei.
Mas lembrei-me de ti e nunca te esqueças disso independentemente do que o amanhã trouxer.
Quer traga ele lama, lava ou gelo. Furacões, maremotos ou enxurradas. Perda, desgosto ou frustração.
Acho que já percebeste a ideia.
Nunca me esqueci de ti. Assim que eu conseguir me soltar de todas estas adversidades, prometo-te...vou-te buscar sem falta.

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