quinta-feira, novembro 29

Interesse

Fecham-se-me os brônquios e não consigo respirar
Uma sinapse repentina prende-se-me na laringe
Abrem-se-me os bronquíolos e consigo expirar
Um axónio desprende-se da minha faringe
Vem incinerar o meu corpo sem utilidade
Que nada mais interessa
O contrário será sempre felicidade
A fragilidade mantém-se dispersa
Não saborear passadas no chão
Muito menos olhar cheiros irresistíveis
Não dá para ouvir paisagens com a mão
Mas agarro as notas musicais irascíveis
Quero o som
Quero o pingar das gotas da chuva no meu chapéu azul
Para que se misturem e eu não saiba distinguir
Onde começa o céu e acaba o mar
Quero o sabor
Quero os paladares de caramelo, chocolate e natas
Uma miscelânia que me adoça o bico
E elimina todas as amarguras
Quero o cheiro
Quero o aroma da terra molhada às sextas depois das aulas
Um cheiro aprazível que me invade as narinas
E tudo parece eterno
Quero a vista
Do meu monte vejo o mundo que espera por mim sentado
Resguarda todas as surpresas para mim e enfim
Vejo a lua cortejar os coelhos
Quero o toque
Aveludado que tinha quando nasci
Está escondido, eu nunca o perdi
O calor humano absorveu-o.
Quero tudo que no fundo é o nada
Nada para os outros, tudo para mim
E se este nada é o tudo que nao acaba
O meu mundo nunca terá fim
Porque infinito sempre foi o nada
Em que perduramos assim...

Sem comentários: