quinta-feira, novembro 29

O meu mundo é sensação...

Não será ilusão? Ilusão momentânea pelo qual se regem as regras ditadas pelo meu ser. Porque Neste meu mundo, o prazer, a felicidade, não passam de um simples vislumbre que eu desejei ser eterno. E aqui dentro permaneço só, com medo de magoar e de ser magoada. Enganando-me de que é assim que quero estar...relacionando e interiorizando todas as réstias de realização pessoal e de pseudo-felicidade, compactando-as com o meu entulho cerebral, desperdiçando espaço, tempo e sanidade. Torno-me constante, repetitiva, quase previsível. Tudo perde a "piada" à medida que me afundo num sono acordado...Aí, desejo uma vez mais que ele venha. Que venha já para receber o nada que tenho para dar, que me consome as entranhas por estar engarrafado há tempo demais, já a transbordar, a rebentar, a explodir. É esta a sensação do meu mundo. Preencho o meu maior buraco negro com a maior das minhas paixões, com os meus rituais, que ditam aquilo que sou na íntegra. Revelo quem sou, demonstro quem fui, apresento o que serei. Sem nunca deixar sair o verdadeio eu. Aquele que é frenético, louco, abstracto, que se transcreve na forma de um lirismo especial e indecifrável. Que é puro. Vivo então na minha redoma, receando sair para o mundo do "tudo" como criança que nasce sem glóbulos brancos no corpo. Cresce forte com fraquezas, dura mas frágil, brusca mas doce. E o que consegue entrar neste meu mundo castiço? O papel rasgado com frases escritas frutos de ideias relâmpago, flashes de memórias, brinquedos melancólicos que relembram a mal amada ignorância de outros tempos, o instrumento que todos os dias fornece uma ponta de esperança e, ironicamente, as paredes que me rodeiam que enquanto me protegem, esmorecem a minha alma... Existir cá dentro (pois não vivo inteiramente) é sensação...de sufoco. Por vezes pânico, angústia, mascarados com folia e passividade temporária. É uma mistura de alegria postiça e de tristeza plástica. É apenas seriedade. Viver e analisar. O meu mundo é sensação de pequeneza, de insignificância mas cheia de força e esperança. Aqui há espaço para todos os tamanhos. Quando sou grande, o meu mundo transforma-se numa selva gigantesca, que consegue albergar o mastodonte que me sinto naquele momento. Quando sou pequena, habito dentro de um minúsculo dado que dá voltas e voltas somando cada vez mais mudanças aleat orias, que adubam as minhas raízes e mudam a minha visão. Aqui sou livre de sonhar com a minha utopia ideal. Assim vive a minha pessoa mental, numa ilusão real. Este meu lugar é tudo e nada: imaginário, real, habitável, confuso, emocional, grande, estranho, amoroso, arrumado, subjectivo, espontâneo, pequeno, semelhante, insensível, rude, falador, analítico, silencioso, mágico, abstracto, objectivo, programado, barulhento... O meu mundo interior nunca será totalmente decifrado. Nem eu sei o que ele é realmente. Mas para uma resumida e antecipada caracterização, posso dizer que ele é a síntese do que sou e do que vivi, guardado dentro da minha caixa de Pandora, transformada numa duradoura questão. O meu mundo não é sensação. É interrogação, constante busca de respostas. E ele espera ansiosamente pela chegada de quem as irá trazer na forma de um sentimento inexplicável, impossível de se traduzir em palavras, aquele que faltava para o nada ser completo... E questiono-me: Virá ele de Roma?

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