quinta-feira, novembro 29

Transformação

Mentirosos duma figa. Só querem viver com luxúria ignorando o que está por detrás do invólucro que apodrece com o passar das areias. Afundo-me nelas porque não tenho como pagar o oxigénio aprisionado. Não consigo pagar por ele nem às prestações. Mas de algum modo acabo sempre por voltar à superfície. Recordo-me de que não sou alimentada pelo mesmo pensamento de merda que todos os outros parecem ter. E têm-no na realidade. Não que o meu pensamento não seja uma bosta também...mas ele nada ker. Não quer desejar uma ponta de um corno, com medo que ele se divida em dois no topo da torre de controlo. Não quer desejar Roma para não ficar sem a Itália. Não quer o pouco que preenche o nada, para não perder todo o pouco que tem. Nada deseja,ao contrário dos porcos chauvinistas que apenas saciam a sua sede com a miséria dos outros, com o sofrimento dos restantes e com a tristeza dos demais. Querem abrir-me ao meio com uma serra eléctrica e destruir todos os meus órgãos, só para tocar na minha derme. Raios partam esses estupores invasivos que chupam o sangue até ao tutano. Consomem-me a alma por meses e acham que não faz mal. Mal: 1. tudo o que prejudica, fere ou incomoda; 2. aquilo que é contrário ao bem; 3. infelicidade; desgraça; calamidade; 4. prejuízo; inconveniente; dano; 5. defeito; problema; imperfeição; 6. doença; enfermidade; 7. ofensa; 8. aflição; angústia. De entre todos estes sunstantivos há no mínimo dez que revelam aquilo que me trespassa por séculos e milénios, quero só que me deixem em paz. Que não passem à minha frente e voltem atrás. Que evitem contacto comigo porque a minha estupidez é contagiosa.Para além de o ser, ainda tem o poder de afastar tudo como uma daquelas vassouras enganadoras que se vendem no canal consumista que tenta apanhar espectadores incautos as 5:14 da manhã. Quero que me deixem e que apaguem a luz. No escuro onde eu dormia acordada, eu sonhava. Sonhava com ovações, situações do ridículo, o meu cérebro enchia-se de "e ses.." como um flood a encher uma página de um script e fartei-me. Apercebi-me de que isto tudo é uma filha da puta de um ciclo que não consigo parar. Tento puxar o travão de mão, mas ele só me deixa com uma marca , que revela a força da inércia que ele possui. Que eu, tu, nós, vós, eles temos. Permanecemos parados morte após suicídio, divórcio após destruição. E sinto-me repugnante, acarreto com a culpa, tal como tu te devias sentir também caralho! Mas não. Isso não faz MAL a ninguém. E já alguém pensou que secalhar eu sou esse ninguém? O Zé ninguém que nunca apanha as bolas no voley, o zé ninguém com quem eu converso na minha cabeça. Posso ser eu ou até mesmo tu. E um dia hás-de sofrer na epiderme aquilo que eu existi. Aquilo que aturei. Não tenho culpa da minha lotaria genética ter dado nesta sequência de acções sucessivas de que te escondes, de que te mostras, de que retrais e de que sais. E voltas para plantar esperança e arrancá-la de seguida. Nem um pouco das raízes sobraram, nem um pouco dos sais minerais deixaram, daqueles de que se alimentarem. É o fenómeno do bicho-papão. Mete-te num canto escuro e ele apareçe pronto para te papar. Duma só dentada já a pessoa desaparece nos confins de um estômago onde morrerá derretida por ácidos gástricos. O resto que sobra é um esterco, não tem lugar na sociedade. É libertado para o exterior e isolado da civilização. Sempre foi assim, sempre será. Acredito na metamorfose, mas no que é que ela dá? Saio da fase de pupa, passo por crisálida e morro borboleta..Para ressuscitar lagarta. Mas não pensem que sou como as outras galdérias, que se põem diariamente na fila para morrerem belas e com a sua comitiva. Morrerei só, porque naquele momento fatal, só eu posso libertar a borboleta eterna que se escondia nesta carapaça dura de barata, dentro de mim.

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